Falar em "macumba" normalmente gera risos ou até certo medo. Antes de iniciar quero deixar claro que o presente escrito não vem como forma de questionar práticas religiosas e para que elas se destinem. O objetivo é colocar algumas práticas da cultura popular – a macumba especificamente - como forma de agressão ao meio ambiente.
São comuns nos finais de ano as pessoas usarem as crendices na espera de um ano melhor. Em datas colocadas pelas “religiões alternativas” se fazerem oferendas na espera de algo bom para si. Até mesmo no meio urbano e rural a prática do ocultismo é usado na esperança de se obter algo que se acha difícil de conseguir sem seu uso: um emprego, um amor que não vem, à resolução de um problema, a saúde... ou até mesmo a prática do obscurantismo a fim de livrar um relacionamento de um(a) rival, a morte de alguém, a vingança por algo que não deu certo. O famoso termo “chuta que é macumba” virou chavão e até mesmo chacota, mas originalmente usava-se como forma de desagrado com a má - sorte. Nas esquinas (ou encruzilhadas), nas beiras de córregos e riachos, nos cemitérios, nas igrejas ou em algum lugar que a cultura diz ser propício à prática acaba sendo comum encontrar-se garrafas, charutos, velas, fitinhas, santos quebrados, entre outros objetos.
Recordando um pouco da História, macumba é um antigo instrumento de percussão, provavelmente de origem africana, parecido com o reco-reco e macumbeiro era o tocador desse instrumento; popularmente macumbeiro é todo aquele que pratica cultos das religiões sincréticas afro-brasileiras trazidas pelos escravos como o candomblé e a umbanda. Entretanto seus adeptos não usam o termo para designá-las. Por envolverem música e instrumentos, além de oferendas às divindades e espíritos, a cultura cristã instituiu que os cultos iam contra suas tradições e passou a designá-los como macumba. Na cultura popular macumba é o mesmo que despacho, mandinga, coisa feita, feitiço, entre outros termos.
Como citei no inicio, o objetivo não é discutir se esse “exercício religioso” é correto ou não. Observando algumas dessas práticas o que chama atenção é o lado ambiental. As pessoas que empregam essa prática não observam – não por esse ângulo. É preocupante o fato do uso de materiais que na cultura popular é para eliminar ou fazer o mal a outrem, mas quem o faz não percebe que está agredindo o meio ambiente e prejudicando seu próprio bem estar. Normalmente os instrumentos usados são de materiais não biodegradáveis como o vidro, plástico, parafina (que é um derivado do petróleo), tecidos sintéticos, entre outros. Isso acaba sendo lançado em córregos ou abandonados ao ar livre. Alguns rituais envolvem crueldade contra animais, como sapos e galinhas; em outros se usam bebidas alcoólicas ou água, estas acumuladas a céu aberto criando vetores.
Nos rituais que envolvem animais, estes são sacrificados, sendo seus restos abandonados a céu aberto; alguns são mutilados e largados a própria sorte. Também a superstição gera repúdio a alguns animais como, por exemplo, os sapos que promovem limpeza ao se alimentarem de insetos e são parte da alimentação de alguns répteis, e sua extinção além de acarretar na proliferação dos vetores, podem desequilibrar uma cadeia alimentar. Os mutilados acabam morrendo por não se defenderem de seus predadores ou não conseguirem se alimentar, como gatos, galinhas, ratos, etc.
Nos rituais que envolvem objetos, a destinação dada é o lançamento ao meio ambiente. Alguns rituais recomendam o descarte em água corrente, poluindo assim os cursos de água com os resíduos. Outros aconselham largar os objetos em um local com mata ou campo, esquinas ou “encruzilhadas”, cemitérios ou outros. Por não serem biodegradáveis esses objetos não se decompõem ou demoram a desaparecer no ambiente, causando assim profundo impacto. Há ainda os resíduos alimentares, que são usados muitas vezes juntamente com esses objetos de descarte e, ao ar livre são criadouros de vetores que podem causar doenças ao ser humano.
A maioria dos que praticam esses rituais são pessoas de baixa renda, com pouco nível de escolaridade e sem acesso a informações. Existem ainda os que se usam da prática da macumba para angariarem fundos e explorar pessoas deseperadas com causas difíceis.
Independente do que motive essas práticas deve-se adotar uma consciência ambiental e divulgar aos que acreditam no método o dano ambiental para o qual contribuem. A intenção do presente foi através de informações coletadas e de pesquisa realizada, divulgar o lado ambiental e alertar sobre suas conseqüências, e não discutir tal prática de devoção, afinal, vivemos em um país laico.
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